Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

domingo, março 29, 2009

Artista da Baixada conclui Cristo
de 1,82m entalhado em madeira


Ele nasceu em Minas Gerais há 56 anos, no mesmo dia (29 de agosto) em que o artista Antônio Francisco Lisboa, conhecido por Aleijadinho, por causa da doença que sofreu e o deformou sem piedade. Muito embora tenha feito cursos de marcenaria e serralheria, ele preferiu estudar a obra de Aleijadinho, o mais famoso artista do período Barroco no País. E, juntando as técnicas que aprendeu no curso de marcenaria com o que leu e pesquisou sobre o artista barroco, ele resolveu se especializar em escultura em madeira. Hoje, ele é conhecido no País e no exterior como o “Aleijadinho da Baixada”. Estamos falando do mineiro Darcilio Ferreira Soares, que, como todo artista autodidata, não fez da profissão um meio para o enriquecimento e mora a muitos anos numa casa modesta do bairro Vila Leopoldina, em Duque de Caxias.
Agora, depois de mais de seis meses de exaustivo trabalho, Darcílio se prepara para entregar um dos mais importantes trabalhos de sua longa carreira: um Cristo pregado na crruz, esculpido em Cedro, com 1,82 metro de altura, Além do trabalho de marcenaria (para desbastar a escultura por dentro, tornando-a mais leve), entalhe (com riqueza de detalhes como as veias dos braços e a coroa de espinhos), Darcílio também realizou o acabamento em pintura automotiva, que garante a qualidade do acabamento e durabilidade da escultura, toda feita em cedro. A obra, segundo o artista, dura pelo menos três séculos. A encomenda foi feita pelo vigário da Igreja de São Benedito, localizada no bairro de Pilares, Zona Norte do Rio de Janeiro, que está passando por um processo de recuperação ao final do qual será realizada uma grande festa para receber a imagem do Cristo, cuja cruz, também em madeira, tem três metros de altura.
Darcílio Ferreira Soares teve uma infância difícil. Ainda criança, perdeu os pais e foi internado em uma creche de Belo Horizonte. Para ocupar o tempo, ele brincava de fazer bonecos com cerâmica. Ele diz que achava tudo fácil, mesmo não tendo ninguém para incentiva-lo ou mesmo ensiná-lo a lidar com o material. Mais tarde, vivendo num internato em Juiz de Fora, onde cursou o antigo ginásio, aproximou-se mais ainda da arte e, aos 18 anos, teve que deixar o colégio e passou a viver com um grupo de amigos que trabalhavam como entalhadores de móveis. Quatro anos depois, desembarcava no Rio de Janeiro, indo residir primeiro em São João de Meriti e depois, na Vila Leopoldina, a poucos quilômetros do centro de Duque de Caxias, onde transformou sua modesta casa em um atelier.
O
trabalho de Darcilio, apesar de nunca ter freqüentado escola de arte, é comparado nos dias de hoje por muitos ao do gênio do barroco mineiro, Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
“Só sei que nasci no mesmo mês que ele, exatamente 226 anos depois”, desconversa o escultor, que tem um currículo de fazer inveja a muitos outros artistas. Nele constam dezenas de imagens sacras em madeira, sob encomenda de antiquários e colecionadores, bem como restauração de várias Igrejas, entre elas a de São José, no Campo de Santana, no Rio; da Ressurreição, em Copacabana, também no Riio; e a de Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, Minas Gerais, entre muitas outras. Além de restauração, ainda produz imagens para Igrejas de várias cidades do País e até mesmo do exterior. Possui ainda inúmeras peças no 1º Museu Itinerante da Bíblia, iniciado em 1998 pela escritora e catequista Margarida Maria Lima. Sem falsa modéstia, Darcílio acredita que produziu mais de 50 peças de grande porte em mais de 30 anos de carreira.
Autodidata, Darcilio é considerado um dos mais completos artistas plásticos do país, tendo vários trabalhos nos Estados Unidos e Europa. Entre os colecionadores que mais admiram o artista mineiro está Carlos Alberto Serpa, fundador do Cesgranrio, que possui um presépio com 60 peças e seis imagens de santos. Para Serpa, uma grande exposição do artista certamente traria patrocínio e mais condições para produzir um número maior de obras. A cantora Elba Ramalho também possui obras do artista.
- Darcilio é um artista completo - depõe o também artista plástico Pedro Marcílio Leite. "Além de esculpir as peças, ele faz a pintura e o folheamento em ouro. Não conheço ninguém que faça isso com tanta perfeição. A técnica de envelhecer seus trabalhos é a mesma dos artistas barrocos dos séculos XVII e XVIII", informa Marcílio.
Em Duque de Caxias, Darcílio recebeu alguns prêmios, destacando-se três medalhas de prata no Salão de Arte Sacra, promovido pela Sociedade de Cultura Artística. Ele recebeu ainda uma homenagem de Pedro Marcílio no cordel, "O Santeiro de Caxias", lançado pelo Movimento de Resistência Cultural Barboza Leite.