Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

sexta-feira, outubro 09, 2009

EDUCAÇÃO GANHA PRÊMIO DA UNESCO

VOCÊ SABE QUEM
FOI PAULO FREIRE?

Através do Decreto Legislativo nº 0138, de 31 de agosto de 2004, assinado pelo vereador Laury Villar, então presidente da Câmara de Duque de Caxias, foi instituída a “MEDALHA PRROFESSOR PAULO FREIRE”, a ser concedida anualmente em cerimônia pública no dia 15 de outubro, “Dia do Professor” Na justificativa da concessão dessa comenda, o Decreto especifica que merecerão tal Medalha “os professores que tenham, comprovadamente, desenvolvido projetos, propostas e/ou outros instrumentos para o desenvolvimento da qualidade do processo educacional”
Este ano, no dia 15 de outubro, na cerimônia que o vereador Mazinho irá presidir no Teatro Municipal Raul Cortez, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, uma das professoras homenageadas pela Câmara Municipal, indicada pela vereadora Juliana, será a pedagoga Vera Lúcia Ponciano, que, nos anos 80, era Diretora da Escola Municipal Visconde de Itaboraí, um dos pólos do projeto da Fundação Educar em Duque de Caxias e. Ela também era vice-presidente da Associação dos Moradores do Bar dos Cavaleiros. Foi por conta dessa dupla militância que a professora Vera Lucia Ponciano participou ativamente da implantação de projetos de alfabetização de jovens e adultos na Baixada Fluminense na segunda metade dos anos 80, sob o patrocínio da Fundação Educar, criada pelo Governo Federal para implementar uma política de combate ao analfabetismo, principalmente entre adolescentes e adultos de todo o País.
Em 1988, a Baixada foi duplamente premiada com esse projeto. Primeiro, pelos resultados práticos conquistados, tirando da escuridão do analfabetismo milhares de jovens e adultos que mourejavam diariamente em Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis e São João de Meriti. Em segundo, por merecer um Diploma de Honra ao Mérito concedido pela UNESCO, instituição vinculada à ONU – Organização das Nações Unidas - sediada em Paris e dedicada a incentivar e patrocinar projetos que envolvem a educação em todo o Mundo.

Paulo Freire ladeado pelas professoras Vera Lúcia e Solange Amaral numa das suas visitas a Duque de Caxias para acompanhar o desenvolvimento do projeto de alfabetização de jovens e adultos.(Fotos: Arquivo pessoal)

O MÉTODO PAULO FREIRE

O pernambucano Paulo Reglus Neves Freire (nasceu em Recife em 19 de setembro de 1921 e faleceu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997) foi um educador que se destacou por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. Por isso é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
Para Paulo Freire, “não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério,
com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho,
inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”“.
Ao contrário do método tradicional de memorização de palavras através de cartilhas padronizadas, Paulo Freire partia da pesquisa do linguajar familiar dos alunos para elaborar uma cartilha própria para eles. Assim, o vocabulário básico empregado pelos moradores da Zona Rural de Minas Gerais não era o mesmo utilizado no agreste de Pernambuco, ou pelos catadores de caranguejos de Maceió.
Paulo Freire acreditava que o aluno só seria alfabetizado efetivamente se sentisse que era partícipe importante do projeto. Assim, para os jovens e adultos das grandes cidades, geralmente empregados na Construção Civil, a cartilha partia de termos comuns ao dia a dia, como areia, cimento, pedra, portas, janelas, enquanto para um morador de Xerém e Tinguá, uma região voltada para a agropecuária, o vocabulário básico incluía termos como mandioca, feijão, cana de açúcar, café, vaca, boi, burro, mula.
O método “Paulo Freire”, que acabou sendo adotado em outros países emergentes, desagradou, no entanto, aos grupos conservadores. Primeiro, porque dava ao trabalhador analfabeto uma poderosa ferramenta de reivindicação: o saber ler para entender os seus próprios direitos. Em segundo lugar, a ênfase nos direitos individuais, que incluía o direito de greve, afetava sobremaneira as relações de patrões e empregados, principalmente no campo, onde o dono da terra, mesmo depois do advento da “Lei Áurea”, continua se comportando como senhor de tudo e, principalmente, de todos.
Onde já se viu caboclo largar o corte da cana para reivindicar aumento de salário ou o fim da bóia fria?
E a experiência da Fundação Educar na Baixada Fluminense serviu, ainda, para a elaboração de um livro e até um documentário, dirigido pelo cineasta Silvio Tendler, mostrando o dia a dia dos moradores das favelas e cortiços da região e como eles mudaram o seu jeito de olhar o futuro depois de alfabetizados. O livro “A BAIXADA PARA CIMA”, uma edição bilíngüe, e o documentário foram levados para Paris, onde o projeto de alfabetização demonstrou a sua eficiência e acabou premiado pela Unesco. E entre os professores envolvidos no desenvolvimento e execução do projeto esta um atuante grupo de jovens professores da Baixada, inclusive Solange Amaral, que viria a ser, nos anos 90, Secretária de Educação de Duque de Caxias, e Vera Lúcia Ponciano, que foi sub na mesma pasta, ora homenageada pela Câmara Municipal com a medalha “Paulo Freire”.


As primeiras letras desenhadas no caderno ninguém esquece

AVALIAÇÃO

O livro, feito pelos professores e coordenadores do projeto na Baixada, também reunia depoimentos tanto de alunos, como de pessoas da comunidade ou lideranças políticas da região. Um dos depoimentos mais impactantes da época foi dado por D. Mauro Morelli, então Bispo de Duque de Caxias e São João de Meriti, que afirmava:
“A Baixada Fluminense é um retrato em branco e preto do Brasil. Situa-se próximo à cidade do Rio de Janeiro e faz parte da área metropolitana. Começando pelo povo da Baixada: 60 a 70% da população é de raça negra. Esse povo descende da situação criminosa e vergonhosa que foi a escravatura no Brasil. A maioria ainda vive hoje não numa escravidão jurídica, mas numa escravidão de fato, que é a marginalização, a impossibilidade de participar de verdade da vida social, econômica e política do país.”
Outro depoimento importante recolhido pelos responsáveis pela elaboração do livro foi de Zeelandia Candido de Andrade, coordenadora do Clube de Mães Nossa Senhora da Saúde, em Coelho da Rocha, Distrito de São João de Meriti. Não bastasse a sua militância política, Zeelandia é filha de João Candido, herói da Revolta da Chibata, que liderou, no inicio do Século XX, um movimento insurrecional na Marinha de Guerra contra os castigos corporais infligidos aos marinheiros pelos comandantes das embarcações.
Em seu depoimento, Zeelandia fala sobre as dificuldades enfrentados, até hoje, pelos negros na luta por uma verdadeira igualdade racial, política e social no Brasil.
“Fomos para a rua denunciar a discriminação dos negros, no ano do dito Centenário da Abolição da Escravatura [1988]. Prepararam uma armadilha para nós, mas nós não caímos. Não queremos ocupar o lugar dos brancos. Queremos só que os brancos reconheçam que os negros fizeram também a História deste País. Queremos só estar no espaço que é nosso, ao lado dos brancos. Eu sou pequenininha. Sou apenas a coordenadora da Pastoral do Negro da Diocese de Duque de Caxias. Meu pai foi grande! Lutou pelos pequenos. Por isso, não está na História dos brancos. Mas a gente vai reescrever a História deste país. E esse projeto está ajudando a que se faça justiça!”

Vinte e um anos depois, as vielas da Baixada continuam estreitas e sujas.

MERECIMENTO
A homenagem que a Câmara de Vereadores presta aos professores a cada 15 de outubro é uma forma de lembrar a importância do Magistério na formação do cidadão. Não importa a profissão, a carreira escolhida ou a classe social a que pertença: todo mundo precisa de um professor em sua vida, mesmo ainda no útero materno.
Afinal, quem ensina os primeiros balbucios, os primeiros passos, as primeiras letras?
O prêmio da UNESCO ao trabalho desenvolvido pelos professores da Baixada foi o reconhecimento da Educação como ferramenta de efetiva ascenção social.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

2:58 AM, fevereiro 08, 2010

 

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