Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

A VELHA JAQUEIRA DO 25 E
A DERROTA DOS POLÍTICOS


Em 1958, com a implantação da cédula única e o fim das cédulas individuais, que eram impressas por conta dos partidos e candidatos e muito utilizadas na chamada “boca de urna”, a apuração ficou mais rápida, com a Justiça Eleitoral recrutando advogados, professores, contadores e bancários para atuarem nas Juntas Apuradoras. Nos anos 60, depois da construção do novo Fórum de Duque de Caxias, em frente à Praça Governador Roberto Silveira, o local passou a ser ponto de romaria dos candidatos a vereador, que esperavam durante dias pelo resultado final.
Contadas uma a uma, as cédulas passavam por diversas mãos, pois havia o voto nominal nos candidatos a vereador, deputados estaduais e federais (identificados por números), além dos votos partidários, isto é, destinados exclusivamente às legendas. Cada Junta Apuradora elaborava um Boletim de Urna, onde constava o número de votantes, os votos distribuídos por candidatos, por partidos, os nulos e em branco, juntamente com uma ata circunstanciada com informações sobre qualquer evento durante o processo da votação, especialmente os casos de voto em separado.
Como havia mais de uma dúzia de legendas e o acesso às dependências do Fórum era limitado aos Delegados, Fiscais e dirigentes de Partidos, os candidatos tinham que esperar do lado de fora a liberação dos mapas de urnas para saber o andamento da apuração. Na área em frente ao Fórum e à Delegacia de Polícia, onde hoje existe o Ed. Pariz, havia inúmeras árvores, inclusive uma frondosa jaqueira. Para fugir do calor do mês de outubro, os candidatos buscavam a proteção da sombra daquelas árvores. Daí era comum quando algum cabo eleitoral perguntasse sobre o paradeiro do seu candidato, a resposta padrão:
- Está debaixo da jaqueira!
Como a votação dos vereadores era concentrada nos seus bairros de origem, a tensão era muito grande até o final da apuração, pois sempre havia a esperança de boa votação em uma sessão distante, onde o compadre do candidato se esforçara por ajudá-lo. Aproveitando-se de uma gíria do futebol, esses locais de maior concentração de votos de um candidato eram chamados de “Zona do Agrião”.
Uma outra característica do processo eleitora daquela época é que a totalização era feita por máquinas de calcular, muito lentas e sempre sob suspeição dos candidatos que não eram beneficiados pelas urnas. A impugnação era feita no ato da proclamação da contagem da urna, ficando esse resultado “sub judice” até que fosse julgado o recurso pela Junta Eleitoral, presidida pelo Juiz responsável pela Eleição a cada ano.
O sistema de votação proporcional, que conta, primeiro, os votos de todos os candidatos e de legendas para, só então, calcular o cociente eleitoral e, a partir daí, o número de cadeiras conquistadas por cada partido ou coligação, aumentavam a aflição dos candidatos, que continuavam a marcar ponto sob a jaqueira. Como os resultados parciais diários sempre oscilavam, em virtude das áreas de influência de cada candidato, era comum um candidato sair comemorando a vitória no primeiro dia e chegar ao final do segundo com uma votação abaixo do esperado, pois seus concorrentes haviam avançado naquele dia.
A contagem sempre seguia a ordem numérica das seções e dos Distritos. Como isso, eram contados em primeiro lugar os votos dados no 1º Distrito, que era o mais populoso e com maior número de candidatos. Assim, quem disputava a eleição pelo 4º Distrito, como era o caso do saudoso José Barreto, tinha que aguardar até o final para saber se fora eleito, ou não.
Ocorre que ninguém desistia depois de contadas as urnas de seu bairro ou área de atuação, pois os candidatos sempre têm a impressão de que sua votação seria maior do que aparecia nos mapas de votação, como até hoje ocorre. Daí, eles permaneciam debaixo da jaqueira, aguardando a abertura de uma determinada urna, aquela da “Zona do Agrião”, onde votava seu compadre ou parentes próximos.
Nessa batida, os últimos a abandonarem a “trincheira”, isto é, a jaqueira, eram os perdedores em definitivo, os persistentes que esperavam por um verdadeiro milagre, pois o compadre, que morava em Imbariê ou Xerém, Distritos tinham as suas urnas contadas por último, prometera um balaio de votos.
Dessa foram, os candidatos em vias de derrota, isto é, aqueles cuja votação ficava abaixo da linha de vitória em cada partido, eram apontados como os “candidatos da jaqueira”, que através dos tempos passou a significar a derrota nas urnas.
A construção do Ed. Pariz nos anos 70 acabou com a jaqueira, mas a sua sombra continua a assustar os candidatos de muita esperança e poucos votos. Em 2010, iremos ver surgir uma jaqueira virtual, agora que os votos são contados pelos computadores do Tribunal Regional Eleitoral.

A foto, que pertence ao acervo do Instituto Histórico Vereador Thomé Barreto, da Câmara de Vereadores, mostra a famosa jaqueira, em frente à 59ª DP/Caxias, onde os derrotados esperavam o milagre dos votos que viriam da “Zona do Agrião”. Ao fundo, a pedreira abandonada, onde foi erguida a Unigranrio.

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