Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

sexta-feira, março 31, 2006

VOCÊ CONHECE O DISTRITO DE XERÉM? (Coluna 161)

Ruínas da Igreja Velha de Xerém – Capela de Santa Rita da Posse, fundada em 1766, em propriedade do Capitão-Mor Francisco Gomes Ribeiro, senhor da Fazenda e do Engenho da Posse e também administrador do Oratório de Santo Antônio da Posse

► Contestando a definição do "Aurélio" para a origem de Xerém, os pesquisadores Armando Valente e Nélio Menezes (este, já falecido), garantem que a origem do topônimo que identifica o Quarto Distrito de Duque de Caxias não passa de uma corruptela aportuguesada do nome do barqueiro inglês Jonh Charing (cuja pronúncia é "Xérim"), que, nos idos do Século XVII fazia transporte em seus barcos do porto do Pilar para o interior da região, em direção ao Sítio do Couto, na divisa com o hoje município de Petrópolis. Segundo o "Aurélio", o topônimo Xerém seria derivado do produto conhecido popularmente como "Xerém" ou canjiquinha, resultado do esmagamento incompleto do milho, muito utilizado na culinária nordestina e na alimentação de aves recém-nascidas, Segundo os pesquisadores Armando Valente e Nélio Menezes, em trabalho publicado no Guia de Xerém (http://www.guiaxerem.com.br/), desde a descoberta do Brasil os colonizadores portugueses tinham dificuldade de atravessar o paredão rochoso da Serra da Estrela, o que só foi conseguido quando, em fins de 1,669 e a partir do interior do Vale, foi aberto um novo Caminho das Gerais, que terminava no porto do Pilar.

"A natureza pujante e hostil que impedia a penetração de aventureiros, foi vencida, não por esforço dos nossos, de baixo para cima, mas sim, pela intrepidez do paulista Garcia Rodrigues Pais, filho do legendário caçador de esmeraldas Fernão Dias Pais. A custa de seus próprios recursos, com grandes sacrifícios e perdas de muitos escravos, o bandeirante abriu uma picada de cima para baixo, vindo com sua gente de Paraíba do Sul, em fins de 1669, mais ou menos em linha reta, até a freguesia do Pilar. (Armando Valente e Nélio Menezes)

Com a abertura do "Caminho Novo das Gerais", em substituição ao Caminho Velho (que começava em Paraty e era alvo dos piratas que circulava pela costa brasileira) a região entre o Pilar e os contrafortes da Serra do Mar ganhou um novo status, com a colonização das áreas às margens dos rios que cortam a região, o que exigia canoas mais rápidas e de maior porte. É quando entra em cena o piloto de barcos londrino John Charing, um dos primeiros súditos da Coroa Inglesa a se fixarem no Brasil. Com a sua experiência em transporte marítimo, o novo morador da região logo percebeu que, com a quantidade de rios que ali havia, o futuro apontava para o transporte em barcos, mais rápidos e eficientes que o lombo de mulas e burros, muito utilizados pelos colonizadores para vencerem a Serra do Mar em direção ao Vale do Paraíba.

Com apoio da Corte, logo John Charing era dono de uma frota de velozes barcos, que transportavam até o porto do Pilar ou do Rio de Janeiro (atual Praça XV de Novembro) tudo que era produzido na região, como café, açúcar, cachaça, feijão, cerâmica e farinha. Com o passar dos tempos, a população da região, que não conhecia nem falava Inglês, começou a mudar a pronúncia do nome do barqueiro, que logo foi rebatizado de João Cherém. Com as mudanças ortográficas de meados do Século XX, chegamos à atual grafia de Xerém. "Mais seguras, eficientes e rápidas do que as outras, as canoas de Charing eram as preferidas do público, todos queriam viajar com ele. O tempo foi correndo e seu nome foi se associando indelevelmente, não só ao trajeto que fazia, mas, também, ao local para onde a cada viagem se dirigia”.

Por vontade popular e a tradição oral, estava assim batizado com o nome do barqueiro inglês, o rio e todo o pé de serra que o cercava. Convivendo com escravos e mais pessoas, em sua maioria, de pouca ou nenhuma instrução, Charing teve seu nome corrompido para Chérem, e posteriormente corrigido pela ortografia oficial para Xerém. João Xerém casou-se duas vezes e deixou o primeiro matrimônio com larga descendência. Muitos dos seus netos nasceram na Freguesia do Pilar" (obra citada)

Xerém entrou definitivamente no mapa econômico do País no final da II Guerra Mundial, com a instalação de uma empresa para fazer revisão dos motores de avião, uma área de transporte que se desenvolveu muito a partir da transformação do invento de Santos Dumont em arma de guerra. Com a derrota do trio Itália-Alemanha-Japão, em maior de 1945, a fábrica de Xerém foi adaptada para a produção de caminhões sob licença da italiana "Alfa Romeo", dali saindo os veículos que, nos anos 60, dominavam o transporte rodoviário nacional, ganhando do povo o apelido de "João Bobo", pois era um veículo lento para os padrões de hoje, mas o único capaz de vencer as "rieiras" e atoleiros da velha Rio-Bahia e de outras estradas que demandam o interior do País. Nos anos 70, a fábrica foi vendida à Fiat, que logo desativou a sua linha de produção, de onde também saiam os automóveis "Alfa Romeo", que aqui ganharam um novo título, "JK", em homenagem ao homem que construiu Brasília.

(Publicada em "O MUNICIPAL", Edição Nº 9062, 24-03 a 07-04-2006, pg.
CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO. FOTO: TÂNIA AMARO)