Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

GLEIBY TEIXEIRA, UMA MEMÓRIA VILIPENDIADA (Coluna 155)

A idéia de dar o nome de Gleiby Teixeira à pracinha foi do professor Stélio Lacerda (esquerda), Diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, prontamente aceita pelo então prefeito Renato Moreira da Fonseca (direita)


► Ele era um jovem e promissor artista de aguda sensibilidade. Era também uma pessoa afável e, talvez por isso mesmo, não teve forças para enfrentar o dia-a-dia de um Mundo em que ter é mais importante do que Ser, onde a Humildade foi substituída pela tola Vaidade, onde mandar é mais importante do que respeitar as leis e o outro. Assim, em poucas palavras, pode ser resumida a curta trajetória de um caxiense que tinha tudo para ser um dos mais importantes artistas plásticos do País, mas que - ante tanta ignomínia, tanto cinismo, tanta ambição desmedida - desistir de viver. Morreu jovem, mas deixou - entre dezenas de amigos e admiradores - exemplos de dignidade, de respeito e de paixão pelas cores. Ele era Gleiby de Almeida Teixeira, filho do poeta, advogado e jornalista Albino Vaz Teixeira, fundador do jornal "Trópico".

Em 1968, Gleiby Teixeira participou do "I Salão Duquecaxiense de Pintura”, realizado no Clube dos Quinhentos pela Sociedade de Cultura Artística de Duque de Caxias, criada e mantida pela teimosia cívica do jornalista Carlos Ramos. Ainda nos sombrios anos de chumbo e às vésperas do fatídico AI-5, Gleiby Teixeira participou, ao lado de Walter Collares, de uma exposição realizada no Teatro Armando Melo, um dos nossos poucos espaços voltados à Cultura e que acaba de ser fechado. Nessa exposição, as pinturas de Gleiby faziam contraponto aos desenhos e guaches de Collares.

Em 1969, Gleiby, concorrendo com outros vinte artistas, conquistou a sua primeira "Menção Honrosa" ao participar do " II Salão Duquecaxiense de Pintura ", agora realizado no Edifício Profissional, em espaço cedido pelo empresário Carlos dos Santos Vieira, outra figura importante da vida política, social e cultural de Duque de Caxias, capaz de promover shows de Roberto Carlos e Johnny Mathis nos anos 60 em seu CAP Country Club, com renda em benefício de instituições filantrópicas do Município.

Em depoimento para o livro "Uma Passagem pela Caxias dos Anos 60", do professor Stélio Lacerda, o jornalista e artista plástico Paulo Ramos revelou que, apesar do sombrio clima político no País, Duque de Caxias vivia nos idos de 68 um momento cultural muito favorável, "despontando artistas talentosos e criativos que se destacariam nos anos seguintes nos diferentes campos das artes. Entre eles, estavam Chico Fernandes, Gleiby Teixeira, Artos, Marcos Bonfim, Walter Collares, Rogério Torres, Do Carmo Fortes, Rodolfo Arldt, Armando Romanelli e Ediélio Mendonça".

Foi por isso que o prefeito Renato Moreira da Fonseca, logo após o trágico desaparecimento do jovem artista, nascido e criado na Rua Barão de Tefé, no 25 de Agosto, resolveu homenageá-lo, dando seu nome a um pequeno triangulo de terra, situado no entroncamento das ruas Barão de Tefé e Rua Ana Nery, ao lado da então Casa de Saúde Imaculada Conceição, mais tarde transformada em Hospital Mário Lioni. Pequena, mas acolhedora, a pracinha ganhou uma placa e um busto do artista, que deveria simbolizar o reconhecimento do povo caxiense à arte de Gleiby Teixeira.

No final de 2004, a Prefeitura resolveu "reformar" a Praça Gleiby Teixeira, instalando um gradil e algumas figuras geométricas em meio a algumas plantas ornamentais. O principal, o busto e a placa, que dava nome à acolhedora pracinha, onde mal caberia um fusca, desapareceram sem deixar rastros! Hoje, voltamos a te uma praça sem nome bem em frente à casa onde nasceu e viveu Gleiby Teixeira. A praça, pelas suas exíguas dimensões, ficou livre do inacreditável "trenzinho caipira", que, antes de ser uma sutil homenagem ao compositor Heitor Villa Lobos, é o retrato de como a Cultura é tratada neste País sem memória, onde, por razões mercantilistas ou mercadológicas se desfigura uma obra do arquiteto Sérgio Bernardes, como ocorreu com a fachada da antiga residência do deputado Tenório Cavalcante, a famosa "Fortaleza" da Avenida Presidente Kennedy, ou a tri-centenária Igreja de São João Batista de Trairaponga, construída nos idos de 1.647, hoje dedicada a Santa Terezinha do Menino Jesus, no Parque Lafaiete, ou se deixa vir abaixo a Capela de S. Bento por omissão da Igreja, dona de grande parte do patrimônio histórico do País, e do Governo Federal. Afinal de contas, a Cultura, num País que não respeita o seu passado, não rende votos, nem "mensalão"!

Ainda há tempo para a atual administração reparar o "crime '" praticado pelo governo anterior. Basta querer respeitar o passado recente da História de Duque de Caxias, como deve ser o comportamento de todos os governantes deste País.

(Publicada em "O MUNICIPAL", Edição Nº 9056, 13 a 27-01-2006, pg.5
CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO. FOTO: ACERVO PESSOAL DA PROF. MARTHA ROSSI)